O Wrestling Addicted tem a honra de vos apresentar uma entrevista a Ultra Psycho, um dos wrestlers mais promissores da APW que esteve recentemente presente num dos maiores espectaculos de wrestling em Portugal.
Sem mais demoras fiquem com a entrevista.
- Podes contar, resumidamente, a história da tua carreira como wrestler?Eu desta vez prometo fazer tudo resumidamente, houve quem se queixasse duma entrevista minha que, apesar de boa, era longa. Sem mais demoras, a resposta a esta questão.
Comecei a treinar a 8 de Agosto de 2003 na Escola Tarzan Taborda, também conhecida como “Dungeon Portuguesa”. Toda a gente está a par que os treinos eram em casa do Tarzan Taborda, na Fonte da Telha e eram orientados especialmente pelo Pedro Pavão e, quando ia, o Bruno Almeida. O Bruno Brito também dava uma ajuda de vez em quando em termos de orientar treinos. Comecei desde cedo a ajudar no que podia, nesse Verão o local de treinos estava a ser coberto (era ao ar livre) e o ringue ia ser montado. Desde o início que ajudei em tais tarefas, como a pintar e a montar o ringue mais o Pedro Pavão em particular. Passámos o Verão a realizar estas tarefas e depois é que comecei os treinos “à séria”. E assim foi até Fevereiro de 2005, quando os treinos na ETT foram interrompidos temporariamente, se bem que jamais voltaram ao activo com o falecimento do mestre em Setembro desse ano.
Nesse mês fui convidado para os treinos de uma tal “PWE” (“Portuguese Wrestling Entertainment”), liderados por Pedro Afonso e, apesar de ser contra “backyard wrestling”, aceitei ir dar uma espreitadela mais um amigo meu que treinava na ETT comigo e começámos a treinar ali com eles e a orientá-los. De todo esse grupo, apenas o próprio Pedro Afonso “vingou”. Entretanto os outros membros da ETT começaram a treinar lá também.
Depois disto veio a aventura por “terras de Sua Majestade”, mais precisamente na FWA Academy em Porstmouth, onde fiz um estágio de 8 dias de treino intensivo com o Bruno Almeida, Bruno Brito e Pedro Pavão. Os treinos eram liderados por Mark Sloan e Justin Richards e pudemos ainda treinar com vários convidados especiais, como Doug Williams e James Tighe. No último dia realizámos combates de treino e o meu adversário foi o Pedro Pavão. Antes disso fizemos uma promo a falar do nosso adversário e tive o “prémio” de “melhor promo da turma”. O combate em si foi curto (menos de 7 minutos) mas até foi decente.
Quanto à carreira na APW propriamente dita, juntei-me à APW em Março de 2004 como sócio. A minha estreia deu-se a 15 de Junho de 2006 na tour “Suplex de Verão 2006” contra Pedro Pavão, o homem que tinha derrotado em Inglaterra. Em Portugal não consegui o mesmo feito. Depois da tour de sucesso, lutei no Impacto Total 2007 em ambas as noites, a primeira numa gauntlet para o Título Nacional da APW, onde fui eliminado pelo Prophet (que também eliminei ao mesmo tempo) e na segunda noite venci um combate de tag team com o meu parceiro Paulinho, contra o Prophet e o Vyper Kid. Depois disto e até ao momento, só voltei a ser visto numa festa de Carnaval no Porto, onde interrompi aquela que se prometia ser uma infame actuação por parte do Tony de Portugal e que acabou em… adivinharam… Ainda por cima o campeão Arte-Gore e Mad Dog juntaram-se à festa…
- Como é o ambiente da APW?É um ambiente de amizade e uma cumplicidade que une todos no mesmo objectivo, que é de colocar o wrestling no mapa e dar aos fãs um produto nacional agradável de ser visto. Claro que nem tudo é um “mar de rosas” e também surgem conflitos e assuntos para serem resolvidos, mas no geral todos têm o mesmo sonho e todos trabalham pelo mesmo objectivo.
- Quais as pessoas que mais admiras na APW?Penso que, se todas lá estão e permanecem lá, todas devem ser admiradas, pois paixão, pelo menos, revelam ter. Não vou revelar preferências, cada pessoa ali tem um papel e tenta cumprir a sua parte da melhor maneira que pode.
- Se alguém quiser treinar na APW o que tem de fazer?Em primeiro lugar, depende de onde esse alguém seja. Caso seja do sul do país, o único sítio onde poderá treinar na APW é em Portimão ou em Silves. Em Portimão realizam-se a maioria dos treinos, durante a semana, mas sem o ringue. Aos fins-de-semana, por vezes, fazem-se treinos em Silves, no local onde está o ringue. Quanto às pessoas que residam mais na área metropolitana de Lisboa, existe também uma academia de treinos da APW recentemente aberta em Lisboa. Eu acho que é do conhecimento geral, e se não for aproveito para esclarecer, que já não sou eu o responsável pelos treinos nessa academia, ao contrário de quando esta foi inaugurada. Devido a problemas internos que não são para aqui chamados (apesar de também serem do conhecimento geral pois há gente que não tem mais nada que fazer que andar a falar da vida e decisões dos outros), as aulas estão agora a cargo de outra pessoa. Seja para um lado ou outro, quem estiver interessado em se juntar ou para já apenas saber mais informações, mande um e-mail para
wrestling_apw@hotmail.com com as suas dúvidas.
- O que é que aprendeste ao estares a lutar no mesmo show com wrestlers ingleses e da TNA? Aprendi muita mas mesmo muita coisa. Tive oportunidade de ver como é o ambiente num show que considero bem acima de qualquer “indy show”, como funciona o trabalho de um road agent, como são os momentos pré e pós combate e claro que recebi bastantes conselhos dos veteranos que me vão ser muito úteis daqui para a frente. E isto é algo que não se aprende mesmo estando 10 anos numa escola de wrestling.
- Gostaste mais do publico de Lisboa ou do Porto no Impacto Total?Sinceramente gostei mais do público do Porto. Estavam muito mais “dentro” da acção, eram mais ruidosos, mais espontâneos estavam ali para simplesmente curtirem o show (e não com a mania que sabiam, tipo muitos de Lisboa, ok, confesso que detesto smark-wannabes). Quase todos os lutadores acharam o mesmo, até me lembro de ouvir o Bubba Ray na “gorilla position” a dizer para o Axel que “este público está 300% melhor que o de ontem”.
- O que é que achaste da organização do Impacto Total? Penso que no geral esteve bem, não houve problemas de maior, quanto a mim o maior problema de todos foi na gauntlet trocarem a minha música com a do Vyper Kid *risos*: Se bem que a culpa nem foi da organização do Impacto Total, que recebeu ordens de o Vyper Kid entravam em 2º e eu em 3º, logo as músicas estavam organizadas dessa forma, até que depois a parte do “booking” da APW vem-me dizer que afinal eu entrava em 2º e assim fui. Qual não é o meu espanto quando oiço uma música que não tinha nada a ver com a minha e depois a minha quando o Vyper Kid entra. Ainda por cima tem a minha voz no início… *risos*
- Ravel disse que foi convidado para participar no Gauntlet do APW Impacto Total. Confirmas? Caso confirmes, achas que o convite deveria ter sido feito? Agora é que é mesmo caso para dizer: “HÃ?...” *risos*
- Correm rumores que a TNA vai regressar a Portugal. Caso isso aconteça, achas que a APW poderá receber, mais uma vez, as estrelas da TNA?O que está planeado fazer é um evento anual idêntico ao Impacto Total. Provavelmente terá inclusive o mesmo nome, tipo Impacto Total 2008, etc. Deverá ser no início de cada ano, será de novo sob o banner da APW e contará como sempre com a presença de estrelas internacionais em especial da TNA.
- Como é que achas que o wrestling está ser tratado em Portugal?Penso que continua a haver muita ignorância acerca deste desporto em Portugal. Agora surgiu a moda que já se esperava há muito, dos miúdos andarem à tareia nas escolas e os pais virem dizer que a culpa é do wrestling que assistem na televisão. Eu lembro que a WWE está catalogada para maiores de 14 anos (menores só sob supervisionamento de um adulto), logo, se menores dessa idade assistem aos programas e os imitam, é porque os pais assim o permitiram. O mais giro é que, na minha opinião, os miúdos também imitam o wrestling porque os pais meteram-lhes na cabeça que aquilo é tudo mentira, uma brincadeira e ninguém se aleija a sério. É claro que os miúdos acreditam no que os pais dizem, e acham que conseguem fazer o mesmo (e muitas coisas parecem fáceis de serem executadas até que se experimenta e vê-se que não o é) sem se aleijarem.
Outra demonstração de ignorância diz respeito ao próprio produto nacional e isso ficou bem patente no Impacto Total. As pessoas não têm vontade de apoiar o que é nacional pois seguem a velha filosofia do “que é nacional não tem qualidade”. Eu garanto-vos que há muita gente talentosa em Portugal que apenas precisa de uma coisa: uma chance. Uma estrela não se faz de um dia para o outro e só se desenvolve com o treino, o tempo e o apoio dos fãs. Ora, sem apoio dos fãs, tudo se torna muito mais difícil. Além disso, não temos cá as condições que são oferecidas aos aprendizes a lutadores lá fora, logo temos de jogar com o que temos. Se houvesse apoio dos fãs e alguma compreensão no início, o produto nacional poder-se-ia desenvolver ao nível do internacional e até ser muito melhor que alguns mercados. E lembro-me de duas frases do Jerry Lynn, uma em que dizia que quando era novato também cometeu muitos erros e outra em que disse que já tinha visto muito pior em algumas “indies” americanas que o que viu da nossa parte. Ou as pessoas esperavam que os portugueses nascessem ensinados e apresentassem naquelas noites o nível dos lutadores ingleses e da TNA, já com anos de rodada nesta indústria?...
- O que pensas da FPW, NWR e UCW?Acho que a FPW é uma liga que nos apresenta pessoas empenhadas em mostrar um produto de wrestling em Portugal, tal como a APW. A diferença está que a APW é o correspondente à WWE em Portugal e a FPW é uma espécie de TNA (até o ringue deles é alternativo também *risos*). Já vi pessoas talentosas lá e que podem realmente ir longe se treinarem como deve ser. Por outro lado, também vejo lá gente que tem o que eu chamo de “mentalidade RAW”, os típicos jovens que começaram a ver wrestling há 2 ou 3 anos, desde a Radical, e que têm uma mentalidade para o negócio do wrestling que considero bem diferente, por exemplo, da minha. É aqui que entra a mania de fazerem combates onde o que conta é as típicas “spotfests” e a terrível e ameaçadora (para as suas carreiras) mania de imitarem lutadores em vez de se esforçarem por serem o mais original possível. Já para não falar da mania de serem “babyfaces” mas com maneirismos de “heel” algo que só funciona em Stone Colds e Eddies precisamente porque foram os pioneiros nisso.
A NWR é uma anedota pegada. Nem há termo melhor para a descrever, e que me desculpem as pessoas nela envolvidas, até porque a culpa nem é delas e sim de quem a gere. É o que dá termos uma “backyard fed” liderada por alguém que se acha um Messias do wrestling nacional, uma autêntica estrela, quando eu pessoalmente nem sequer o considero um “lutador”, nem um “treinador”, nem coisa alguma, pois considero ser um indivíduo sem qualquer qualificação para ser uma coisa ou outra. A única coisa que ele conseguiu fazer foi publicidade e mais publicidade e não sei se usou os métodos da IURD lá do pé da casa dele ou não, o método de atrair multidões para uma coisa que não tem qualquer valor real.
A UCW ainda mais anedota pegada era. Não passou de um website. Mais nada… E ainda bem, sejamos sinceros! *risos*
- Que estilos de wrestling preferes?Acho que todos os estilos de wrestling fazem falta para enriquecer o panorama mundial, desde o mais técnico à original e única “lucha libre”. Mas claro que tenho os meus estilos favoritos. Diria que o meu estilo favorito de ver é o americano tradicional, aquele praticado especialmente na AWA, NWA e WWF dos anos 80 e 90. Talvez porque foi o que comecei a ver… Não sei… Mas ainda hoje, mesmo depois de exposto a todos os estilos, continua a ser o que me dá mais gozo de apreciar.
- Qual será o teu futuro e o futuro da APW?O futuro só Deus sabe, como se costuma dizer. Tudo depende de como a APW se portar. Eu cá sei do que sou capaz e até que ponto a APW pode contar comigo. Não sei sinceramente até que ponto posso eu contar com a APW, pois infelizmente ela já me surpreendeu algumas vezes pela negativa em decisões que tomou para com a minha pessoa e um exemplo recente foi a situação envolvendo a academia de Lisboa. Não é um caso isolado, já o ano passado houve problemas, não sei se muita gente assistiu aos eventos do Suplex de Verão e se se lembram do torneio pelo Título Nacional da APW, se estão lembrados, não me viram lá a combater pois não? Pois, não foi à toa…
Só quero com isto dizer, que de vez em quando o ponto de vista do “office” da APW e o meu ponto de vista chocam um bocadinho e por isso o futuro é incerto. Gostaria imenso que de futuro isto deixasse de ocorrer para continuarmos a ter uma relação harmoniosa como em outras alturas já tive com eles e que apreciei bastante.
- Obrigado pelo tempo gasto na entrevista.Eu é que agradeço, sempre que quiserem, exponham-me as vossas dúvidas, terei o máximo gosto em esclarecê-las.